Uma breve navegada por sites de busca em artigos técnicos e jornalísticos ao redor do mundo revela uma (mais uma) preocupação global: a relação de valor Euro / Dólar. A degladiação de valor entre essas moedas iniciou-se em meados de junho de 2002; e o Euro saiu vitorioso aí por janeiro de 2003 – desde então as diferenças só têm aumentado (vide gráfico em anexo).
Uma situação com várias causas e inúmeras conseqüências pode, contudo, ter apenas uma fonte: a economia americana convive com déficits comerciais recorrentes, fomentando as economias internacionais através de sua balança comercial negativa. Apesar disto, a economia americana é auto-sustentável, devido aos altos índices de poupança e investimento internos, que anulam o déficit. A fim de re-estabilizar a balança comercial, contudo, a maior economia do mundo resolveu desvalorizar sua moeda (em relação a todas as outras moedas do mundo) para estimular a exportação (entrada de divisas no país) e desestimular a importação (saída de divisas). Até aí tudo bem – afinal, todos os governos utilizam-se desse recurso vez por outra. O problema é que, quando o fiel da balança muda, todos os pesos relativos devem ser alterados.
Existem dois tipos de moedas estrangeiras: “A” e “B”. As moedas tipo A tem liquidez (compra e venda) suficiente para permitir que sua taxa seja calculada diretamente. As moedas tipo B, por sua vez, devido à falta de negociação, são calculadas em relação às moedas tipo A.
O valor do dólar americano (moeda tipo A) em moeda nacional (definido pela movimentação diária do mercado financeiro), devido ao volume de troca e à estabilidade econômica do país, tem sido utilizado pela maioria dos países para ajustar suas taxas cambiais em relação às outras moedas.
Assim, por exemplo, se o dólar custasse R$ 3,00, e o euro (moeda tipo B) valesse US$ 0,80, então esse seria cotado a R$ 2,40. Seguindo esse mesmo raciocínio, se o valor do dólar aumentasse em relação ao euro (para, por exemplo, US$ 1,00/€) o valor do último se elevaria em relação ao real (em nosso exemplo, para R$3,00/€).
Assim funciona o mercado de capitais. Várias outras considerações mereceriam ser feitas em relação ao investimento direto no país e à fuga de capital, e como eles ajudam a moldar as taxas de câmbio, mas por hora não entraremos em maiores detalhes.
Duas perguntas pairam no ar: A primeira diz respeito à relevância dessa situação para nossas empresas exportadoras e importadoras. A segunda, a uma previsão do futuro: o que acontecerá de agora em diante?
A resposta à primeira pergunta é bem simples: Quando da desvalorização do Dólar, as transações naquela moeda ficam menos atrativas aos exportadores, já que esses estarão ganhando menos Reais por Dólar recebido. Da mesma forma, os preços em Dólar de produtos importados terão um valor menor em Reais, gerando uma saída de divisas e favorecendo as economias estrangeiras.
Para resguardar-se dessa perda de divisas, o exportador brasileiro se voltará aos mercados europeus, a fim de tirar proveito da alta daquela moeda. O importador europeu, por sua vez, aproveitará a alta de sua moeda para importar produtos mais baratos do que os produzidos em seu próprio mercado. Essa relação, apesar de aparentemente simples, se torna mais complexa a partir do momento em que o experiente importador europeu souber que os preços do exportador brasileiro são indexados em Dólar. Assim, ele tentará tirar proveito da situação, forçando uma baixa nos preços. Convém também considerar que a economia na zona do Euro não dispõe do mesmo “vigor” da americana, de maneira que a demanda por produtos importados pode não ser tão forte; e o protecionismo europeu, com seus elevados subsídios à produção interna, fazem com que este mercado mereça maior atenção na hora da negociação.
A diferença se dá em termos de inteligência de mercado (experiência, conhecimento). Enquanto os mercados dolarizados já estão conquistados, um novo trabalho de prospecção e análise é necessário para abrir mercados na Europa. Se o mercado europeu já está aberto, um investimento maior será preciso para maximizar seu potencial – não se esquecendo, é claro, de que eventualmente o Dólar re-aquecerá, e seus velhos clientes voltarão.
Marcos Manosso | Niuton Salvadoretti Paganella |
Consultor de Negócios Internacionais | Consultor de Economia e Estatística |